Nascida a 25 de maio
COM LICENÇA POÉTICA
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.Eu sou.
Mais um ano de vida. Mais uma etapa cumprida.
É assim que eu me sinto no dia do meu aniversário.
Normalmente as pessoas fazem um retrospecto de suas vidas no último dia do ano.
Eu não.
É no dia do meu aniversário que penso nas minhas conquistas, nas coisas que deixei de fazer e na benção de estar viva. E todo ano concluo que o saldo ainda é positivo.
Ainda bem!
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