Telenovelas brasileiras influenciam cubanos
“Algum dia a história de nossas últimas décadas deverá ser contada a partir das telenovelas brasileiras que passaram pela telinha. Ouviremos os especialistas estabelecerem paralelismos entre a quantidade de lágrimas derramadas diante da televisão e o grau de resignação ou de rebeldia adotado na vida real. Também será matéria de estudo a esperança que alimentava em nós aquele sujeito – o dos folhetins televisivos – que conseguia sair da miséria e realizar seus sonhos”.
Este é um trecho de um dos capítulos do livro da cubana Yoani Sánchez, a blogueira mais premiada do mundo. Yoani comanda o blog Generación Y e está impedida pelo governo cubano de vir ao Brasil, para o lançamento de seu livro “De Cuba, com carinho” (Editora Contexto).
No livro ela segue contando a influência das telenovelas brasileiras na vida do povo cubano:
“Nessa provável análise, terão que incluir, sem dúvida, a atormentada ficção de A escrava Isaura . A mulher mestiça que escapava de um amo cruel paralisou nosso país e, numa ocasião, fez com que passageiros se negassem a subir num trem e permanecerem na estação durante a transmissão do capítulo final. Inclusive nos serviu de fonte para analogias entre o escravocrata que não concedia a liberdade à sua serva e os que agiam como nossos patrões, controlando tudo”.
“Nessa época, as amigas de minha mãe se divorciaram em massa, inspiradas na personagem independente de Malu, que criava sozinha uma filha e não usava sutiã”.
“Veio então o ano de 1994 e o maleconazo obrigou o governo a adotar certas aberturas econômicas, que se materializaram em quartos de aluguel, táxis particulares e cafés autônomos. Nesse momento chegamos perto da trama de uma produção carioca que influiu diretamente na forma de nomear as novas situações. Nós cubanos batizamos de paladar o restaurante administrado por gente comum, da mesma forma que a empresa de alimentos criada pela protagonista de Vale tudo. A história da mãe pobre que vendia comida na praia e terminou fundando um grande consórcio, para nós, se assemelhava à dos recém-surgidos cuentapropistas, que equipavam a sala de casa para oferecer pratos extintos décadas atrás”.
“Depois, as coisas começaram a se complicar e vieram seriados em que camponeses reclamavam suas terras, mulheres cinquentonas faziam planos para o futuro e repórteres de um jornal independente conseguiam conquistar mais leitores”.
“Os roteiros desses dramas acabaram sendo – nesta Ilha – chaves para interpretar nossa realidade, compará-la com outras e criticá-la. Daí que, três dias por semana, fico diante da tela para ler nas entrelinhas os conflitos que envolvem cada ator, pois deles surgem muitas das atitudes que meus compatriotas assumirão na manhã seguinte. Terão mais ilusões ou mais paciência, em parte “graças” ou “por culpa” dessas novelas que nos chegam do sul “.
As reportagens sobre o impedimento de Yoani, podem ser lidas nas revistas Época Online (de onde retirei os trechos do livro da blogueira) e Veja Online.
Para ler as reportagens, siga os links:
A blogueira Yoani Sánchez não pode sair de Cuba e As três mentiras de Cuba
2 Comentários:
É por isso que nem começo assistir porque viciam! rs...prefiro séries americanas, que viciam do mesmo jeito mas dá pra alugar quando perco.
oi Ballynha!
Essa é uma sábia decisão.
Bjs
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